O Quartel-General

Após a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ter vendido o Casarão da Rua Bocaiúva, nº 1858, para o Exército Brasileiro, o Grupamento do Leste Catarinense, Grande Unidade que deu origem à esta Brigada, transferiu a sua sede, que funcionou, provisoriamente, no aquartelamento do 63º Batalhão de Infantaria, no Estreito, para o imponente e tradicional imóvel, transformando-o no seu Quartel-General.

A origem desta propriedade remonta o ano de 1876, quando foi publicada, uma projeção, indicada na Planta Topográfica do Desterro _como era chamada a cidade de Florianópolis_, que corresponde ao atual endereço da sede do Comando da 14ª Brigada de Infantaria Motorizada. Neste local, situava-se uma chácara, de propriedade de ANDRE CARLOS EBEL.

Em 1863, EBEL foi sócio de FERDINAND ERNST FRIEDRICH HACKRADT, comerciante e natural da Alemanha. Como curiosidade, em 1848, HACKRADT foi sócio do Dr. HERMANN BLUMENAU e instalaram uma serraria na região do rio Itajaí-Açu. Vinte anos mais tarde, essa sociedade foi desfeita e HACKRADT deixou o vale do Itajaí e se estabeleceu no Desterro, onde possuía residência.

No mesmo terreno da chácara de EBEL, também existiu um palacete que pertenceu a CARL FRANZ ALBERT HOEPCKE. Ele era alemão e veio para o Brasil a convite do seu tio HACKRADT, antigo sócio de EBEL, para ser guarda-livros. Com a prática da nova profissão, HOEPCKE tomou a iniciativa de ampliar e modificar os negócios da família, tornando-se um importante comerciante, pois atuou tanto no ramo das exportações como no das importações.

Após a morte de HOEPCKE, em 1924, o palacete passou a pertencer a sua filha, META LUISE HOEPCKE.

Em 1933, devido à uma infestação de cupins, a casa foi incinerada e demolida. Um novo casarão foi construído, com projeto de autoria do engenheiro TOM TRAUGOTT WILDI. Suíço de nascimento, mas que desde cedo se radicou em Florianópolis. Ele foi um dos pioneiros da construção civil da cidade.

META LUISE HOPCKE viveu no imóvel até 1959, criando vacas de leite. Após a sua morte, sua filha, MARY ANNA herdou a propriedade. Ela era casada com HERBERT MOLENDA. Eles eram os pais de VERA MOLENDA, que resolveu vender a propriedade. Antes, porém, “batizou” a área com seu nome, como Chácara dos MOLENDA. Assim, a parte dos fundos, que se estendia até a atual Rua Presidente Coutinho foi loteada, e a área que faz frente para a Rua Bocaiúva foi vendida para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Entre 1962 e 1973, este casarão, de dois pavimentos e porão, pertenceu à UFSC, onde instalou a sua primeira Reitoria. O seu 1º Reitor, foi o Professor JOÃO DAVID FERREIRA LIMA, um dos seus fundadores, em 1960.

Cabe ressaltar também, que em 1964, nesta área, teve início a Imprensa Universitária da UFSC (IU/UFSC). Eram 330 m2 de área construída, maquinário e 14 funcionários. Também havia, neste mesmo lote, parte do Curso de Engenharia, numa construção de madeira, apelidada pelos alunos de “Casa do Tarzan”, por estar cercada por densa vegetação.

Paralelo a isso, o Exército Brasileiro decidiu estabelecer o Comando de um Oficial-General nesta capital do Estado. Assim, em 11 de novembro de 1971, foi criado o Grupamento do Leste Catarinense (Gpt L Cat) e seu primeiro Comandante foi o General FLORIMAR CAMPELLO. Ele assumiu o Comando em 25 de abril de 1973, ainda em sede provisória no aquartelamento do 63° Batalhão de Infantaria.

No mês seguinte, a UFSC mudou-se para as suas atuais instalações no Campus da Trindade. Após onze anos, o tradicional Casarão da Rua Bocaiúva deixou de servir como sede da Reitoria da magnífica Universidade de Santa Catarina e a área foi vendida ao Exército Brasileiro.

Imediatamente ocorreu o movimento de transferência da sede do Comando do Grupamento do Leste Catarinense, do 63º BI para o Casarão da Rua Bocaiúva, nº 1858. Finalmente, em 16 de maio de 1973, passou a funcionar nas atuais instalações. Para celebrar aquela data, foi construído um pedestal, próximo a porta de entrada do novo Quartel-General, onde foi colocado o busto do Marechal LUÍS ALVES DE LIMA E SILVA, o DUQUE DE CAXIAS, Patrono do Exército Brasileiro. Abaixo do busto, além do Brasão do Duque de Caxias, as inscrições:

GPT L CAT

DUQUE DE CAXIAS

16 MAIO 73

A história não parou por aí. Em 30 de dezembro de 1986, a Prefeitura Municipal de Florianópolis, por meio do Decreto nº 270/86, tombou, o Casarão como Patrimônio Histórico e Artístico do Município.

Em 1999, com a finalidade de atender os anseios religiosos dos militares e de suas famílias, o General DARKE NUNES DE FIGUEIREDO, então Comandante da Brigada, decidiu erguer uma capela. Para isso, escolheu o local que havia construção parecida com uma chaminé que se erguia do solo. A fim de esclarecer o que se tratava aquela instalação, mandou escavar ao redor, pois tudo estava coberto de terra e grama.

Para surpresa de todos, foi descoberta uma edificação de alvenaria com teto abobadado e piso composto por duas fileiras de tijolos maciços, com uma fina camada de revestimento e um sistema de escoamento ao longo das paredes e no meio do piso.

O achado foi apresentado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e ao Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF) que consideraram uma descoberta arqueológica. O laudo revelou ser uma antiga instalação para o armazenamento de água, que guarda semelhanças com construções existentes na Ilha Terceira, nos Açores, e no Convento da Cartuxa, em Évora, Portugal, mas a data de sua construção não pôde ser determinada.

Atualmente, nesta quadra de quase 18.000 m², dentro do terreno que está sob a jurisdição do Exército Brasileiro, existem várias edificações antigas que perfazem cerca de 4.900 m² de área construída. A casa sede é de 1933, as demais, no mesmo lote, com exceção da antiga instalação para armazenamento de água, são da década 30 do século XX, ou mais recentes.

Como visto, esta propriedade da Rua Bocaiúva, nº 1858, já foi a antiga Chácara de EBEL; o Palacete de HOEPCKE; e a Chácara dos MOLENDA. Foi incendiado e demolido. Sob o projeto de TOM WILDI, construído o Casarão que anos mais tarde veio a se tornar a 1ª Reitoria da UFSC. Hoje, está localizado o nosso Quartel-General do Comando da 14ª Brigada de Infantaria Motorizada, onde mais de 300 militares, orgulhosamente servem ao nosso Exército e ao nosso País.

Referências:

     A Casa de Chácara da Rua Bocaiúva : histórias da Praia de Fora / coordenado por Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional, Setor do Memorial ; organizado por Eliane Veras da Veiga. – Florianópolis : MPSC, 2019.

361 p. : il. color.

Arquivos históricos da 14ª Bda Inf Mtz.